domingo, 23 de agosto de 2009

Le français, the english, el español

Aracaju

Há pouco voltei a estudar línguas. Na verdade acho que nunca cessamos de fazer isso, a própria fala e a leitura de um texto ou do mundo são pra mim um estudo das línguas; do corpo, das sensações, dos gostos... Mas voltei a estudar francês com frequência, inglês (depois de uma vida toda) por minha conta quando posso e quando dá, o espanhol só pra leitura e acho que o português na constância da vida, isso se mais uma reforma ortográfica não vier... todas com dicionário bem ao meu lado. Tenho assim tentado não confundir todas elas na minha cabeça por mais impossível que seja não usar o português no espanhol, o inglês naquela expressão que queria muito dizer em francês mas no momento da fala me perco. Essa sensação de confusão se dá na mesma proporção da verbalização da língua portuguesa pelos nordestinos. Sou uma mineira em pleno nordeste e que ainda tenta entender que língua é essa que fala-se por aqui. Ainda estranho o sotaque, os sons, as interjeições que só o nordestino é capaz de criar. Há momentos que ainda me sinto "um peixe fora d´agua"..., já me peguei fazendo leitura labial pra entender o que se fala, da rapidez com que se fala, com a tonalidade, intensidade do que se fala. Aprendi a falar "rapaz" antes de começar qualquer frase, "pronto" para começar ou terminar um diálogo de coisas que aparentemente vão dar certas, ou não! "Cabrunco da peste" pra dizer que do que se diz é um embrólio danado... e tantas outras que em dois meses de estada ainda não foi possível me apropriar delas. Aí me pego estudando um monte de línguas estrangeiras... por mais que as expressões saltem dos livros e que eu tente agarra-las e separa-las na minha cabeça, elas só podem ser aprendidas no corpo, no gosto, os cheiros do cotidiano de quem as vive, no país de quem as vive. Nesse momento tenho estudado todas elas, mas as que tenho aprendido realmente são a nordestinidade e a sergipanidade. Essas tenho vivido na pele, nos ouvidos e diariamente no coração!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

das mudanças...


De mudança acho que sei um pouco nos altos dos meus 20 e tantos anos. Pra começar, mudança, no literal sentido da palavra não se dá só na materialidade das coisas, ela precisa arder na alma pra ser concreta! Outra coisa já aprendi; não há mudança sem dor. Mudar, de casa, de cidade, de emprego, não é algo tão tranquilo como ir ao shopping em dia de domingo. Mesmo sabendo de tudo isso, escolhi mudar de novo....


Estou numa cidade nova, com amigos novos, com emprego novo...mas a sensação é que sou a mesma velha de sempre! Na mudança passamos a observar determinados hábitos e viver sensações que já passamos, mas que se repetem sem que possamos conter o coração, as saudades, a distância! Ainda tenho saudade da minha rotina anterior, da vida mais ou menos organizada que levava e mais tantas outras coisas! Mas a sensação de desorganizar a rotina e consequentemente a vida é também a possibilidade "do novo"... e como isso é bom depois de um tempo!


Ainda sou a mesma velha que começa a ler todas as revistas de trás pra frente, que dança na frente da TV com os jingles de propaganda, que desorganiza todos a volta pra poder se organizar, que trabalha e fala loucamente, que faz escolhas por paixão...


Mas ontem ao ver "À Deriva" de Heitor Dhalia fiquei pensando nas escolhas ... como escolhemos e também como somos escolhidos! Quando fazemos escolhas, sejam elas as mais simples, também somos escolhidos; pela roupa da vitrine, pelo objeto de pesquisa, pelas pessoas a nossa volta. Escolher, usar o livre arbítrio é algo que fazemos todos os dias, mas ser escolhido é algo tão especial que é preciso um pouco mais de sensibilidade para enxergar o outro ou a materialidade que nos escolhe ao redor! Escolher é mais fácil do que ser escolhido!


Continuo assim escolhendo e sendo escolhida nessas mudanças e andanças! São elas que dão o tom da vida que segue...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

das panelas e da cozinha!





Sempre achei que as panelas na minha casa eram uma entidade a parte, não porque gostasse delas, muito pelo contrário. As panelas significavam que estar na cozinha exigia trabalho, cançaso, correria; de fritar o bife, refogar o arroz, fazer a salada e ainda ter que almoçar correndo pra dar conta do resto da rotina diária. Essa, na verdade, é a minha memória da infância e da adolescência daquele universo que rondava a cozinha lá de casa. Talvez por isso fiquei longos anos cozinhando arroz de saquinho, comendo em restaurantes incessantemente e também por necessidade, comendo em RU na época da faculdade (deste em especial não sinto nenhuma falta, a não ser dos amigos, do barulho e da bagunça), mas sempre sonhava com a quele arroz cozido e grudendo e super bem temperado que só minha mãe naquela correria do dia a dia sabia fazer! Ainda sonho com esse arroz diariamente pois o meu nunca vai ser igual ao dela, pois ele não tem correria, filhos querendo ir pra escola, trabalho, dever de casa! A cozinha pra mim, vinha acompanhada de tudo isso, talvez por isso ela fosse pesada demais! Alguns anos depois tive assim minha própria cozinha e mesmo assim ainda relutava em olhar para aqueles jogos de panelas, para o arroz de todo dia. Ano passado ao adentrar numa loja de departamenos cheias de promoções de jogos de panelas e faqueiros não resisti! Mas não resisti pois já tinha há algum tempo sido enfeitiçada pelo cheiro da cozinha e das cebolas e dos aromas...lembram de "Como água para chocolate?" A cozinha há alguns anos tem sido lugar do refúgio, do encontro, das risadas, do tempo da vida, dos sabores e dos aromas! Fui enfeitiçada! O grande penar é que ainda não consigo pensar naquela cozinha do dia a dia, aquela da minha mãe...ela pra mim ainda é isenta de todos os prazeres acima talvez por conta das escolhas do trabalho e de tantas outras ao longo do dia... de pesquisar, de estudar, de dar aulas, de fazer aulas! Bem que tenho tentado ser feliz com uma panela no fogão todo dia, mas acho que não tenho tanta vocação para trabalhar e ser dona de casa como a geração da minha mãe! Mas já aprendi que a boa mesa reúne tantas maravilhas que é impossível não olhar para aquele jogo de panelas e para o faqueiro sem querer usá-lo tanto quanto eles merecem ser manuseados na minha mesa diária...ou, só nos fins de semana!

domingo, 9 de agosto de 2009

dos gostos...


de colo de mãe
de beijo de cinema
de abraço apertado
de inverno e de verão
de água do mar e da piscna
de falar mais do que de ouvir
de pensar, e pensar, e pensar...
de ver e emocionar
de beber e conversar
do bar, do bistrô, da música
da boa música
do ritmo que toca o corpo
do balançar das saias e vestidos
do som do canudo no fim do suco
da janela do carro que enquadra
de cantar dirigindo
de cinema gelado
dos livros da estante
do cheiro de lençol limpo
de almofadas na cama
da carteira das salas de aula
do silêncio de estar só
da agitação de estar acompanhada
da foto no quadro
dos amigos de perto e de longe
dos instrumentos que não sei tocar
da agenda cheia
da comida que cheira
de cebola dourada na panela
de vinho na taça
de gente que passa
das histórias do passado
da organização do futuro
da vida intensa do presente
de telefone que toca
da foto que conta
de sorriso no rosto
do desgosto só um pouco
de vento que balança o cabelo
do suspirar alheio...

gosto aguçado por "Elsa e Fred" o filme...